sexta-feira, 13 de julho de 2012

Permissões

Cansada demais pra me permitir dizer algo.
Não tenho sono, muito menos palavras. Elas sumiram, assim como você.
Mas me permito a liberdade. De não abaixar o olhar, nem disfarçar a lágrima, muito pelo contrário. Me liberto da mesma na maior intensidade possível, e isso é irritantemente bom.
De me perder por horas em inúmeros pensamentos e projeções de algo que de fato poderia ser bom, mas não é. 
Me permito saudade, me permito dor. Me permito você.
E te abraço e te beijo e te amo como gostaria de conseguir me amar, mas não o faço.
E queimo o cigarro como gostaria de queimar as cartas, mas não consigo.
Então eu deixo tudo pra você, já que eu não quero mais.
Me deixo pra voce, te deixo pra mim, nos deixo.
Nos deixo com que pode cuidar de nós. Mas não digo adeus. 
Te guardo.Te guardo e te alimento com o pulsar das minhas artérias.
Arrisco notas desafinadas em sua direção. 
Elas não chegam.Te procuro. Não te acho. Faço birra. Desisto. Sou assim. E fico aqui.
Prefiro a porta trancada do que a rua aberta. Há quem critique.
Mente conturbada demais pra poucas horas do dia - não sei lidar.
Largada, maquiagem borrada, moletom e meias do avesso: não faço questão de nada. Um gole pra um milhão de problemas. Sou o que eu quiser ser.

(Texto para a corrente literária "Quem é você quando ninguém está olhando?")

quinta-feira, 31 de maio de 2012

E carrego esse céu escuro. E esse cemitério de felicidades. E poros que sangram em silêncio. Tudo isso faz de mim um peso de papel. E meus pensamentos não voam mais descompromissados e jovens e coloridos e destacáveis. Eles se unem para, num bloco só, sentir sua falta. Que é algo imenso demais pra se sentir sem estar toda. E por isso, por eu ser agora um peso de papel de mim, as pessoas me velam tristes como se eu estivesse ligada a um soro ou como se eu estivesse acenando a eles, de longe, de um lugar devastado por alguma guerra ou vírus. Como se, de dentro de um planeta que sofreu irradiação, eu acenasse protegida por vidros antes de virar pó químico. Elas me olham como se eu fosse um peixe envenenado num aquário abandonado.                                                                               Ninguém me olha, na verdade, mas fantasio tudo isso e é de fato muito arrogante ter um peito apaixonado. Pra que o peso do peito apaixonado não nos faça caminhar de ponta cabeça, empinamos com toda a força o coração. Como se fossemos muito diferentes e especiais por estar assim. O estado interessante. A gravidez do peito. O peito com alguém dentro.
Não se sinta mal por eu ficar doze horas do meu dia olhando um ponto invisível na parede. Ou por eu gemer de leve quando chega a hora de eu acordar. Ou pela dor nos meus ombros sempre me avisarem que será mais uma luta pra não ouvir a sua voz, a mais bonita voz que se tem notícias pelos ares do mundo. Ou por eu segurar os instantes quando afundo na água, em segundos dramáticos de desistência. Ou por eu ter sempre moleiras de lágrimas iluminando meus olhos. Eu gosto disso. Eu gosto de caminhar soberba e dura e pesada e arrastada e arranhada e retesada e ensanguentada pelas ruas. Eu gosto de ser um escombro perambulando entre todos que não estão apaixonados por você e, só por isso, são inferiores a mim. E de ver o vazio, o normal, o médio, as pessoas, e me sentir mais alta. Ou baixa. Mas sempre de outro lugar.
Eu gosto do coração barrigudo e disso me fazer imensa e cheia de você. Implodida de você e sentindo as dores e as fumaças de andares que desabam quando você diz que agora só amanhã ou depois de amanhã ou nunca.
Pode até ser que outra pessoa te tenha agora andando pela casa e dormindo na cama e pegando uma água na geladeira. Mas eu tenho você no meu fígado e rins e veias e artérias e sonhos e líquidos e células..
Bernardi.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Estranha vida banal

Evaporado o fantasma, reaparece em sua banal realidade o guarda-roupa, a cômoda, a camisa usada na cadeira, os chinelos. E tudo impregnado da ausência do sonho, que é agora uma agulha escondida em cada objeto, e te fere, inesperadamente, quando abres a gaveta, o livro. E te fere não porque alí esteja o sonho ainda, mas exatamente porque já não está: esteve. Sais para o trabalho, que é preciso esquecer, afundar no dia-a-dia, na rotina do dia, tolerar o passar das horas, a conversa burra, o cafézinho, as noticias do jornal.
Edifícios, ruas, avenidas, lojas, cinema, aeroportos, ônibus, carrocinhas de sorvete: o mundo é um incomensurável amontoado de inutilidades. E de repente o táxi te leva por uma rua onde a memoria do sonho paira como um perfume. Que fazer? Desviar-se dessas ruas, ocultar os objetos ou, pelo contrário, expor-se a tudo, sofrer tudo de uma vez e habituar-se? Mais dia menos dia toda a lembrança se apaga e te surpreendes gargalhando, a vida vibrando outra vez, nova, na garganta, sem culpa nem desculpa. E chegas a pensar: quantas manhãs como esta perdi burramente! O amor é uma doença, como outra qualquer..  
E é verdade. Uma doença ou pelo menos uma anormalidade. Como pode acontecer que, subitamente, num mundo cheio de pessoas, alguém meta na cabeça que só existe fulano ou fulana, que é impossível viver sem essa pessoa?
[...] A barra é pesada. Quem conhece o delírio dificilmente se habitua à antiga banalidade..
Ferreira Gullar.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Desire.

F: Entendemos. E é uma droga..
A: É só que.. 
A: Por um instante, achei que tudo estava perfeito..
A: Mas não me lembro mais disso. Tento lembrar, mas não consigo..
M: Sei que parece loucura, mas de algum modo, você tem sorte.
M: Se lembrasse, sentiria a falta.
M: E sentir falta é a pior parte..

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Áspide.

ele vem usando uma máscara, fantasiado de "socorro", quando na verdade é algo próximo a abismo. Eu não suporto ver como você cai naquelas garras. ele te pega de tal forma como se você o pertencesse desde sempre. te derruba, e você nem percebe. quando se dá conta, está no limite entre a existência e o transpasse. A sujeira que carrega não o permite disfarce. Ela cobre o corpo todo sem deixar sequer algum espaço pra alma. E não ouse me dizer que não é assim. Eu te repudio.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Aleivosia.

inquieta. meu instinto gritava que algo estava saindo de mim naquele exato momento. eu já sabia o que iria ouvir, mas mesmo assim não hesitei em ligar logo pela manhã. minha respiração agitada misturada com as lágrimas e com a sua voz tentando me convencer que não havia sido bem assim me deixaram marcas violentas. viro e reviro meu coração pra tentar achar algo de bom que ainda o sustente e a única coisa que encontro são gritos e poças causadas por você. foram tantos "eu sinto muito" ditos em uma só ligação, mas quem realmente sentiu muito fui eu. não tinha como reverter, você havia estragado absolutamente tudo e a mim também. e mesmo assim, continuei procurando por algum espelho teu..